Crescimento assustador: o lixo em números
O volume de lixo gerado no mundo tem aumentado assustadoramente nas últimas décadas e não dá sinais de reversão. Só o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de lixo em 2019. Isso significa, conforme dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Sólidos (Abrelpe), que cada um de nós produziu, em média, mais de um quilo de lixo por dia!
E não é difícil entender como chegamos a isso, já que vivemos em um mundo em que tudo tem embalagem, principalmente plástica, os eletrônicos se tornam obsoletos em meses, e o consumo é incentivado a todo momento.
Veja os principais números do lixo no Brasil (dados referentes a 2019)
- 79 milhões de toneladas de lixo geradas no ano — isso significa, em média, o peso máximo permitido transportado por 9 milhões de caminhões de lixo. São quase 170 caminhões por semana!
- Na última década, a geração de resíduos aumentou 18,6%, bem acima do crescimento da população brasileira (que não chegou a 10% no mesmo período).
- Cada brasileiro produz, em média, mais de 1 quilo de lixo por dia.
- São Paulo é o estado que, proporcionalmente, mais produz lixo: 498 kg por habitante. Santa Catarina é o que menos produz: 257 kg. O Amazonense gera, proporcionalmente, 17% mais lixo que o mineiro — considerando que o estado do Amazonas tem um quinto da população de Minas Gerais.
- Nem todo o lixo é coletado: do total gerado (79 milhões), 92% são coletados (72,7 milhões de toneladas). Isso significa que 6,3 milhões de toneladas de resíduos não foram coletadas pelos serviços públicos municipais.
- Do total coletado, cerca de 40% (29,5 milhões de toneladas) não foram descartados adequadamente, indo parar em aterros controlados ou lixões, que são prejudiciais ao meio ambiente.
- Cerca de 60% dos municípios brasileiros ainda utilizam lixões. As regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste registram a maior quantidade de destinação incorreta.
- São quase 3 mil lixões presentes no país, mesmo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) tendo determinado que 2014 seria o ano limite para a extinção deles.
- 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico são geradas por ano. Desse total, apenas 1,3% é reciclada em território nacional. Apesar do país ser o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, a reciclagem está bem abaixo da média mundial, que é de 9%.
- 4.070 dos 5.570 municípios brasileiros (73%) registram alguma iniciativa de coleta seletiva. No entanto, esse tipo de coleta ainda é incipiente.
- Os recursos aplicados pelos municípios na coleta e demais serviços de limpeza urbana, que incluem destinação final dos resíduos sólidos urbanos e serviços de varrição, capina, limpeza e manutenção de parques e jardins, limpeza de córregos, entre outros, são R$ 25 bilhões — o equivalente a R$ 10 por habitante/mês.
- Em 2019, o setor de resíduos respondeu por 4% do total de emissões de gases de efeito estufa no Brasil, o que corresponde a 96 milhões de toneladas de CO2eq emitidas. Isso se deve largamente à degradação de matéria orgânica em lixões: são 6 milhões de toneladas de gases de efeito estufa liberados em lixões. A queima irregular de resíduos também contribui.
E o resto do mundo?
Em números globais, produzimos 1,4 bilhão de toneladas de lixo por ano — o que significa uma média de 1,2 kg por habitante ao dia. Nos últimos 30 anos, o aumento do lixo produzido no mundo foi três vezes maior do que o crescimento populacional. A Organização das Nações Unidades (ONU) tem se mostrado preocupada com a quantidade de lixo urbano que está sendo produzida e com as perspectivas de aumento. Segundo estudos da organização e do Banco Mundial, a quantidade de lixo gerado deve chegar a 4 bilhões de toneladas até 2050, caso não ocorra uma mudança nos padrões atuais.
No ranking liderado pelos norte-americanos (624 mil toneladas por dia), quatro nações em desenvolvimento (China, Brasil, Índia e México) aparecem entre os dez maiores produtores de lixo. A lista mostra uma discrepância significativa da parcela que cada nação tem no problema, já que, por exemplo, os EUA geram sete vezes mais resíduos sólidos urbanos do que a França, a 10ª colocada.
Por isso, nas últimas décadas, tem crescido muito a pressão sobre as economias mais ricas para praticarem o consumo consciente (veja tópico “Consumo consciente”, na Biblioteca) e acabar com a cultura de descartar um produto como lixo após um único uso. A filosofia ideal de gerenciamento de resíduos se ancora em metas claras: reduzir o consumo, reutilizar ou então reciclar os materiais e, como último recurso, recuperar o conteúdo energético do que não puder ser reutilizado ou reciclado.
Para saber mais
- Baixe o pdf completo do “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020”, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe). A edição do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil traz uma retrospectiva dos dados da última década, cuja comparação permite uma análise histórica do setor, a partir de suas principais componentes, tornando possível uma visão evolutiva e abrangente, inclusive no âmbito regional, acerca do alcance das ações empreendidas e velocidade com que o setor tem se desenvolvido.
Para refletir
- O volume de lixo que geramos está aumentando mais do que a taxa de crescimento da população, ou seja, o lixo gerado por pessoa está subindo a cada ano. Por que isso está acontecendo? Qual papel o padrão de consumo pode ter nesse cenário?
- Lixo na pandemia. A pandemia de Covid-19 mudou nossos hábitos de consumo e de descarte de lixo. Foi registrado um aumento significativo na produção de lixo doméstico e lixo hospitalar. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) estima que as medidas de distanciamento social geraram no país um aumento de 15% a 25% na quantidade de resíduos residenciais. Já para os hospitalares, o cálculo é de um crescimento de 10 a 20 vezes. E o agravante é que o descarte incorreto feito pelas residências também aumentou. Juntamente com o crescimento do volume de embalagens de delivery nas casas, nós acomodamos e diminuímos a separação do lixo reciclável, atolando o serviço de coleta pública de lixo comum com materiais que deveriam ser reciclados.
FONTES
abrelpe.org.br (Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2020)